Camisa de Vênus

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O entardecer aquece o meu corpo e me protege das noites solitárias em que me encontro, com meus pensamentos vagando sem direção, sem uma certeza... O impossível está cada vez mais distante dos meus olhos e o palpável desvanece assim que acordo. Porque estou aqui? Esse não é o meu lugar. Preciso tomar aquilo que me alegra. Me sinto a cada dia mais mutilado por dentro, como se a areia da minha ampulheta já estivesse acabando, levando-me ao fim, ao meu fim... A ilusão tende a me atormentar cada vez mais, e os resquícios de minha felicidade vão sendo levadas pelo acaso, junto com as memórias que deixei por esquecer... Já nem lembro a última vez que vi seu sorriso, que me alegrava a cada manhã ensolarada, em que eu permaneci ao seu lado; Até chegar o dia em que eu amanheci em outra cama, sem ela... Até meus amigos me abandonaram, não sei se eram amigos, não sei se eram reais...

Seis horas. A enfermeira entra.

- Tá na hora do remedinho...
Remedinho? Porquê "remedinho"? Ela me trata como se eu fosse criança...
- Eu não quero esse, quero o que eu tomava!
- Esse você não pode...
- Porquê não? É a única coisa que tenho, que me alegra...
- Vamos, toma!

Tomo, relutante. Só assim descanso.

descanso...

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