Grande Salto

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Aquilo não fora uma briga, nem tiro, nem atropelamento. Mas aquele silêncio indicava que nem tudo estava bem. Cheguei perto do pequeno círculo de pessoas que se formara em torno do acontecimento. Era uma jovem caída no chão. - Foi suicídio. - murmuravam. Tão bela, tão jovem... Não tinham muitas pessoas ali, talvez acontecera a pouco. E cada vez mais, misteriosamente, surgiam curiosos, como formigas que surgem pra pegar um pedaço de doce caído no chão. Eu, um dos curiosos, cheguei mais perto, fitando-a. Algo me chamava atenção: não havia nenhum resquício de sangue, só ossos quebrados, talvez... - a perícia ainda não havia chegado. - Mas o que realmente me intrigou foi seu corpo, estava virado para cima. Ela, com um vestido branco e de braços abertos, estava de olhos fechados, com uma feição serena e com o rosto virado para o céu. Como um anjo sem asas que precisa fazer um pouso forçado, e sem resultados esperados, se entrega, fecha os olhos, mas mesmo assim continua visando o céu.

Já é Carnaval?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009




Não senti o Carnaval chegar
Mas sabia que ele estava chegando
Nas lojas: máscaras e fantasias
Confete e serpentina eram vendidos
Marchinhas estavam a tocar em alguns lugares
Na televisão, anunciavam um baile de máscaras!
Estava no calendário: feriado
Mas nada mudou
O trânsito fluía normalmente
Ouvia-se o barulho corriqueiro dos carros
E todos foram trabalhar
A cidade não parou
Eu parei
Foi a primeira vez que senti saudade do meu país
E não das pessoas.

Braga

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu tempo mudou.
Meu espaço também.
Ao tempo, lhe adicionei 3 horas.
Ao espaço, adicionei a distância.

Ah, Portugal...
Quero provar do teu sabor
Comer o teu melhor bacalhau
E encontrar em ti, um amor

Quero sentir a brisa gelada congelar o meu nariz
Alimentar as pombas da Praça das Laranjeiras
Dá um beijo em frente ao chafariz
E vagar nas noites frias, e acordar com olheiras

Quero olhar sempre riscos luminosos no céu
Observar a mudança das árvores em cada estação
Comer Pastéis de Belém na padaria do seu Manuel
E usar de teus encantos a minha inspiração

Quero caminhar pelo asfalto acinzentado feito de pedrinhas
Ouvir o barulho dos carros de polícia vindo da avenida
Comprar coisas antigas nas feirinhas
E ficar feliz, por ti, ter sido acolhida

Quero participar do balé dos guarda-chuvas ao chover
Enviar cartas na caixa de correio, que parecem irmão mais velho do hidrante
Que essas cartas mostrem o quão bela és, Portugal, a meu ver
Nesta cabeça que se diz inconstante

Quero carregar comigo toda tua bagagem
Passear pelo centro e conhecer tua história
Conhecer dos teus filhos, vossa linguagem
E guardar-te em minha memória.

Fórmula do Esquecimento

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.


Já era, não dá mais, quando lembro de te esquecer é que não te esqueço jamais.

Parti

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Com a pressa de quem busca seu lugar ao Sol, parti
Se demorasse um pouco mais, eu talvez não conseguiria

Sem choro, nem vela, nem despedida, parti
Só abraços apertados, faces tristonhas, e o silêncio...

Com uma imensa dor no peito, e imensa serenidade, parti
No meu estado de plenitude, sem ainda cair em mim.

Sem trazer comigo uma saudade que dói e machuca, parti
Talvez a melhor saudade que alguém pode sentir

Com a alegria de quem anseia por novidade e reencontro, parti
Sem ter os braços fechados pro mundo...

parti.