Alucinações na Madruga

segunda-feira, 30 de março de 2009

Eu e duas pessoas fisicamente idênticas, andávamos em uma noite fria de sábado. Íamos em direção a escola, mas não íamos para a escola, o restaurante ficava na mesma direção. Andávamos apressadas, além de atrasadas, andar esquenta o corpo, e eu que havia escolhido um vestido para aquela ocasião, e morria de frio da cintura pra baixo. A ocasião era um jantar, feito para comemorar o décimo oitavo aniversário de uma garota da minha sala, simpática e pequenina, assim como a maioria, que aparenta ter menos idade do que realmente têm. Ao chegarmos na porta do restaurante, só uma pessoa, amiga das duas pessoas fisicamente idênticas, nos cumprimentados. Não demoraram muitos minutos até que a aniversariante chegou, de braços dados com um rapaz, que pra mim, era o seu namorado. Todos se cumprimentaram com os típicos dois beijinhos, ele como não me conhecia, ao me cumprimentar disse seu nome, em seguida, disse o meu.
- És portuguesa?
- Não, não. Brasileira.
Rimos. Esperamos um pouco do lado de fora, e eu continua a tremer de frio. Ao entrar no restaurante, uma mesa enorme pra 40 pessoas nos esperava. Sentamos um pouco ao meio. As duas pessoas idênticas fisicamente, sentaram ao meu lado direito, a aniversariante na frente delas, a minha frente uma desconhecida, ao lado dela, o tal rapaz que chegou de braços dados com a aniversariante. Com o decorrer do tempo, mais pessoas iam chegando, sentando-se e conversando. Ele, o rapaz, começou a puxar assunto comigo, perguntou de que parte do Brasil eu era.
- Do Nordeste.
- Não conheço. Mas sei um pouco sobre o Brasil, minha namo... ex-namorada era brasileira, então...
- Ah... Legal. – disse, sem saber muito que dizer.
- Faz tempo que tu estás aqui?
- Não... só dois meses.
- Eu também não sou daqui, sou colombiano, mas moro aqui faz tempo. – disse.
Enquanto isso, íamos conversando aos poucos, em cada brecha que aparecia ele me fazia uma pergunta, e eu, prontamente respondia, tímida, mas respondia. Todos conversavam, felizes. Foi aí que pediram vinho, vinho, mais vinho... As meninas começaram a ficar alegrinhas e falar alto. Alguém havia levado uma bebida, perguntei o nome, me disseram, mas não lembro, é um nome comum, mas estranho para bebida. Senti o cheiro.
- Parece tequila. Não é tequila?
- Não. – o tal rapaz disse. É uma bebida tipicamente portuguesa, prova.
- Não, não, obrigada. Não gosto.
- Prova, se tu gostares...
- Ta bem. – aceitei.
Peguei a taça, levando em direção a boca.
- Bebe tudo. – disse outro rapaz.
Virei a taça. Achei horrível, nada que eu não soubesse que iria achar.
- É horrível! Muito forte.
O tal rapaz começou a falar de bebidas, percebi que entendia do assunto. Cachaça é brasileira, tequila é mexicana... e por aí ele foi falando da origem de cada bebida, e perguntou se eu gostava. Disse que não, que quando bebia era vodka.
- Ahhh, a vodka é da Rússia... a minha bebida preferida, coincidentemente é vodka também.
- É a única que eu gosto. – disse.
A aniversariante, já alegre, começou a brindar e falar:
- Sou solteira e sou feliz!
Para o meu engano, ela e o tal rapaz, não eram namorados. Ao acabar o jantar. Eu e mais 39 pessoas fomos para a porta do restaurante. E o frio intenso do lado de fora. Todos estavam conversando, resolvendo se iríamos mesmo para uma boate. Os fumantes que tinham cigarro, fumavam, os que não tinham perguntavam pra todos que viam pela frente se tinham cigarro ou se tinham moedas pra dar para eles comprarem. Nisso, chegou um perguntando se eu tinha cigarro.
- Não, não tenho.
- Então me dá 20 cêntimos pra eu comprar?
- Não tenho trocado, só tenho moeda de um euro.
- És brasileira?
- Sou.
- Ô gatinha, me dá 20 cêntimos, vai.
- Eu não tenho. – procurei na carteira, e só achei 2 cêntimos.
- Toma, só tenho 2 cêntimos.
Sorriu e foi pedir mais moedas para outras pessoas. Provavelmente estava bêbado. Enquanto íamos pra boate, andando naquele frio que me fazia tremer, esse tal rapaz que queria cigarros, voltou e me pediu mais dinheiro, tornei a falar que não tinha. Ele começou a falar:
- Ah, me dá um cigarro...
- Eu não tenho, sério.
- Tu fumas crack?
- Não, fumo não. – Ri. Geralmente quem fuma crack é quem mora em favela. – disse.
- Favela? Eu vou pro Brasil contigo fumar crack.
- Você sabe o que é crack?
- Não, mas eu vou contigo fumar crack. Eu vou com a brasileira fumar crack!
O rapaz que eu havia conversado, perguntou se ele estava me incomodando.
- Não, não, deixa ele pra lá.
- Ô sai de perto da brasileira que ela é minha. – o bêbado do cigarro disse.
- Sou sua? Nossa...
Me irritei, e ele percebeu.
- Vem que eu te acompanho. – e estendeu o braço pra mim.
Andávamos como namorados, e conversávamos como estranhos, na madrugada fria. O cara chato ficou pra trás, assim como muitos. Estávamos em um grupo de 10 pessoas indo para a boate. Ele perguntou como era a escola no Brasil, expliquei:
- Ah, é bem diferente, lá nós temos 10 disciplinas, não pode sair na hora do intervalo, nem fumar na porta, nem namorar...
- Não pode namorar?
- Não... - Ri, ele também.
- A minha escola é diferente, segue o modelo britânico. Nós que escolhemos as disciplinas, tenho economia, matemática, e outras línguas estrangeiras.
- Quais línguas?
- Eu sei falar português, inglês, frânces e espanhol, perfeitamente.
- Perfeitamente? Nossa! - espantei-me, achei alguém que realmente estudava aqui, maioria não gosta de estudar.
- É... e sei um pouco de alemão também. - disse tímido.
Continuamos a conversar, até que chegamos na porta da boate fazendo barulho. Não nos deixaram entrar. Só entram quem eles querem, independente se você ser maior de idade, rico, entrar de casal, se eles não quiserem inventam uma desculpa pra não deixarem entrar.
- Que horas podemos entrar?
- A partir das duas horas, no mínimo. Agora só podem entrar casais e maiores de idade.
- Mas nós somos maiores de idade...
- Mas eu digo maiores que a idade de vocês.
A vontade de socar esse cara era enorme, mas fiquei calada. Resolvemos então entrar de casais, mas tinham mais meninas que meninos. O tal rapaz disse que podia entrar com a aniversariante e comigo. Uma por vez.
- Eu entro com contigo e com a...
Esqueceu o meu nome. É perdoável, afinal, meu nome pra eles é diferente. Nessa discussão de quem ia entrar com quem, aniversariante ligou pra alguém, assim ela resolveu que todos iam fazer hora no apartamento de alguém e depois ir pra boate. Mais uma discussão. A maioria não conhecia as pessoas que iam está nesse apartamento, nem quem era o dono, e nem o que eles estavam fazendo nesse apartamento. Houveram gritos no meio da rua, o clima ficou tenso com o stress e o frio, mas todos acabaram indo pro tal apartamento. Estavam lá várias pessoas que estavam no jantar. Muitas pessoas bêbadas e fumando, não conversavam, muitos eram apáticos, e as meninas bêbadas davam em cima do tal rapaz.
- Sabia que te acho muito giro? – fala a grandona bêbada insinuando-se e quase o beijando.
- Obrigado. – ele riu, sem graça.
Enquanto observava, resolvi ir embora e ligar pro rapaz mais velho. Estava entediada, e boate não me agradava, disseram-me que lá não precisa nem de gelo seco, a fumaça dos cigarros dá o mesmo efeito. Pedi as duas pessoas idênticas fisicamente que me explicassem onde era o endereço do apartamento pro rapaz mais velho vir me buscar de táxi. Não sabiam me explicar, perguntei a mais duas pessoas, também não sabiam. Perguntei ao tal rapaz.
- Já vais embora?
- Já...
- Hmm, ok. – fez uma cara de decepção e pensativo.
Ele tentou explicar mas o rapaz mais velho não entendeu. Pediu um ponto de referência pra mim, eu não sabia, perguntei ao rapaz, ele disse um supermercado. Se eu quisesse iria comigo até lá para o rapaz mais velho me buscar na porta do supermercado. Acho que não sabia que o tal supermercado ficava longe, só acho.
Resolvi procurar a aniversariante que havia sumido entre as muitas pessoas naquele apartamento pequenino. Encontrei-a e pedi que me dissesse um ponto de referência próximo. A clínica. Sabes onde é? Sim! O rapaz mais velho sabia. Ela disse que ia me deixar, o tal rapaz disse que ia conosco, ficou chateado com as meninas bêbadas que o xavecavam, na verdade, era mais que um xaveco. A aniversariante disse pra ele não ligar, afinal, elas estavam bêbadas. Ele não disse nada, pegamos o elevador e descemos. No caminho até a clínica, nós três conversávamos. A aniversariante uns passos à frente e ele ao meu lado.
- Me dá o teu telefone?
A aniversariante olhou com olhos maliciosos pra cima dele. Sorri.
- Hmmm
- Não me olhes assim, não posso ter amigos?
Dei o telefone, afinal, não posso ter amigos? Ri. Pensei um pouquinho e pedi o dele. Ele ia salvar no celular, mas...
- Esqueci o seu nome.
Repeti.
- Mas é com Y.
- E tu sabes o meu?
- Sei. – Ri.
- Mas é com G.
Engraçado, se fosse no Brasil diriam que foi erro de cartório. Salvei. Chegamos em frente à clínica, sentamos na escadaria e ficamos conversando, nós três. A aniversariante perguntou:
- Ô Amor, não acontece sempre isso quando saímos. Achas que vão deixar tu saíres de novo conosco?
- Vão sim, não se preocupa.
- Nem te divertistes, mas o jantar foi bom. – ela disse.
- Foi sim. – disse sorrindo.
O rapaz mais velho no táxi chegou, ao me despedir ele disse:
- Desculpa não ter tido uma noite mais fixe.
- É amor, da próxima vez vai ser melhor. Quando chegares em casa me manda uma mensagem dizendo que chegaste bem.
Falei que não tinha problema, e realmente não havia, o jantar fora bom. Agradeci, entrei no táxi, e segui.

Nada

quinta-feira, 19 de março de 2009

Toda adaptação é difícil
Pra pelo menos uma só pessoa
Mas é difícil.
Não reclamo
Mas não escondo minha tristeza
Tenho os olhos assustados
Sempre prestes a desabar
Minha voz é calada, trêmula
Preciso parar de prender o choro
Preciso desabafar
Preciso do teu abraço,
Encostar meu queixo no teu ombro
E não dizer nada...
Só ouvir o barulho da minha respiração
E me sentir protegida

Não ando só
Ando com a solidão, eu e ela
De mãos dadas
Passeando, perdidos...

Sei que vai passar
Mas nessas horas...
- Onde está seu otimismo?
Ele está ali, por último...
Como a esperança na caixa de Pandora.

Dois dias
Suficientes pra eu perder o brilho dos meus olhos
E andar, triste e só
Triste, enfim.

O Zé

quinta-feira, 5 de março de 2009

Zé Mané
Zé Pequeno
Zé Ninguém
Zé Qualquer

Tens má fama
Mas eu te [dif]amo.