Presente de Natal

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Quando eu descobri que Papai Noel não existia, parei de pedir presente para os meus pais. Não que eu quisesse alguma surpresa, eu simplesmente não queria ganhar presente, e a partir daí meu Natal era sempre igual no assunto presente. Mesmo que eu não pedisse presente, os meus pais sempre me davam, querendo me agradar. E quando se é criança tudo é mais fácil, fica contente com qualquer presente, como eu ficava quando ganhava do Papai Noel. Mas eu cresci, parei de acreditar no bom velhinho… e meus pais não me conheciam mais, e dificilmente eles conseguiam me agradar com o presente, e esse ano foi assim. Mas não deveria! É quase uma obrigação dos pais saberem o gosto dos filhos, tudo bem que eu mudo muito o meu gosto, mas só em relação à alimentação - um dia gosto de carne assada, outro dia não quero ver carne assada na minha frente, um dia não gosto de abacaxi, outro dia é minha fruta preferida. – Fico com uma cara sem graça, e minto que gostei do presente, mas depois acabo perguntando: "Por que não me dão o dinheiro? Assim compro o que quero…" E aí eles percebem que não gostei, e dizem: "É a última vez que compro presente pra ti", e começa a chateação anual. E desde que eu não acredito em Papai Noel, meus pais dizem que é a última vez que compram presente pra mim.
Não sei porque, mas fico mais sensível essa época do ano, sempre tenho uma depressão pré-natal. E embora seja bobagem, essa pequena chateação com meus pais me deixava angustiada. Aliás, datas como Natal, Ano Novo e meu Aniversário me deixam assim, talvez por pensar demais sobre. Ano passado também tive essa depressão pré-natal também, que se estendeu para depressão total de Natal. Ano passado passei o primeiro natal sem meu pai, passei só com minha mãe e meu irmão, alheios na casa de um parente. Não lembro se ganhei presente dos outros, devo ter ganhado, mas lembro que não ganhei o presente dos meus pais, o tal “presente não quisto”. E sabem de uma coisa? Senti muita falta, não pelo fato de não receber o presente, mas porque ele representava algo bem maior, era a constatação de que meus pais lembram-se de mim, e sempre fazem tudo para me agradar e me ver feliz. Esse ano com a família reunida novamente, ganhei o “presente não quisto”, aconteceu a mesma chateação de sempre, e acreditem, fico muito feliz por ainda tê-los ao meu lado para eu poder me chatear, porque são eles o meu verdadeiro presente de natal.

Soldado Da Rua

sábado, 18 de julho de 2009

Sinal vermelho. Era uma noite linda, com poucas nuvens e estrelas, mas que tinha sua beleza pela lua minguante que sorria pra mim como Cheshire Cat. No sinal, algo me chama atenção: bolas de fogo que pareciam flutuar no ar. A cor preta dos malabares que pareciam tacos de baseball, se contrastavam com a noite. Achei aquilo mágico, quatro bolas de fogo levitando no ar. De repente ele perde a concentração e um dos malabares cai no chão, mas rapidamente ele o pega e a apresentação prossegue. O sujeito era branco, não tão alto, e careca, mas não um careca de calvice, um careca que quer ser careca, ou algo que o exige ser careca. Usava uma máscara de químico, e tinha o rosto e os braços sujos de algo preto, como soldados que fazem pinturas no rosto para de camuflar em alguma batalha. Percebi que a batalha dele era outra: a batalha do dia-a-dia, da noite-a-noite, a batalha da vida. Ninguém faz malabares no sinal pela pura e simples arte, mas porque foi a forma que encontraram de ganhar dinheiro. Ao terminar a apresentação, ele pára e olha atento aos primeiros carros. Ninguém com os braços estendidos para dar-lhe uma moeda, muito menos aplausos e prestígio. Ele vai caminhando entre os carros, passando por perto das janelas, em busca de “uma caridade”, mas nada dizia. Peguei algumas moedas na carteira, na verdade, todas as que eu tinha, nada que passasse de dois reais e de seu real valor. Ao ver que alguém - eu - estendia a mão pela janela, ele apressou o passo - o sinal não ia demorar para abrir – pegou as moedas e abaixou a cabeça em direção a janela do carro. Me olhou com olhos tão vivos e brilhantes ao mesmo tempo assustados. Sorri. Ele ficou paralisado, olhando-me por poucos segundos.
- Obrigada. – eu disse sorrindo.
Ele deu um estalo e voltou em si, mas não deve ter me entendido. Não falou nada, fez um gesto agradecendo e seguiu.


*texto antigo, dezembro de 2008*

Cons[ci]ente

sexta-feira, 10 de julho de 2009

- Porra, tu não tem limite! - ele diz, reclamando.

- Não, não tenho, não... - irônica e zangada, só digo isso e penso "ele realmente ainda não me viu passar dos limites".





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Ócio

terça-feira, 7 de julho de 2009

Ando tão apática
Porém tão pensativa...
Cheia de filosofia barata
Encontrada em qualquer
Banca de revista.

Na Garrafa

domingo, 24 de maio de 2009

Em alguma noite
De solidão acompanhada
Nos bares de esquina
Cheios de conversa afiada
E escárnio
Cheiro de impureza
E alegria passageira
Ou tristeza profunda
Numa garrafa de vinho
Coloquei meu amor
E tapei com uma rolha
Joguei-o no mar
Sem muito saber
Onde ia parar
Mas quem o encontrar
Faça o favor de devolver-me
Eu esqueci de uma coisa:
Dar a última golada de vinho.

Grito!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Eu quero ser um grito!
Um grito descrito
E um grito escrito
O grito mais esperado
E o mais desesperado
O grito dos aflitos
E um grito de conflito
O grito de realidade
E o de teatralidade
O grito dos que temem
E dos que pretendem

Eu quero ser um grito!
O grito de imensa dor
E um grito animador
O grito da vitória
E um grito de escapatória
Um grito de virgindade
E um grito de virilidade
Um grito de felicidade
E de incredulidade
Um grito sozinho
Ou um grito com o vizinho

Eu quero ser um grito!
O grito dos mudos
E dos surdos
O grito de liberdade
E de insanidade
O grito mais silencioso
E o mais estrondoso
O grito da vida
E o da partida
E o grito mais bonito
É um grito infinito.

Um Sábio Entre Gigantes

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Um sábio gigante que conseguia alcançar os céus, assistia de cima tudo o que acontecia em baixo dos seus pés. Olhava do alto - pela janela de sua casa, nas nuvens - aquela confusão que acontecia: eram as formigas. Todo dia olhava aquelas formigas amontoadas, sem organização... Não entendia porque aquilo acontecia, então o gigante pediu para um amigo mágico que era seu vizinho e morava na casa das nuvens à sua frente que o transformasse em uma formiga. Nem se preocupou em fazer perguntas sobre a tal transformação e suas conseqüências, queria logo saber porque as formigas viviam daquele jeito.
Chegando lá em baixo ficou assustado com aquela confusão e caos. Umas comandavam e outras obedeciam, umas seguiam outras e outras eram seguidas, umas trabalhavam muito e outras não faziam nada, umas falavam alto e brigavam e outras se calavam e abaixavam a cabeça, muitas se amavam e outras continuavam solitárias. Percebeu que não eram formigas, eram pessoas iguais a ele, só que menores. Não gostou de ficar ali, preferia a tranqüilidade e calmaria do céu, mas era tarde demais, não tinha como falar com seu amigo mágico pois ele estava há milhares de metros acima. Tentou chamá-lo várias vezes pelo seu nome, mas foi em vão, poderia ficar ali até a eternidade e sua voz a chamar nunca ia alcançar os céus.
Frustrado e conformado, resolveu que iria ser uma formiga tal qual elas eram. Quando de repente escuta uma voz soprada no vento, que dizia:
- Não é porque você agora é formiga que deixou de ser gigante. Olhavas tudo de longe e não conseguias entender o que se passava, agora que estás da altura das formigas e observando tudo de perto, continue a olhar de cima como um gigante, mas olhe agora para frente. Sábios sempre são sábios, e conseguem enxergar alto de onde quer que estejam.

Outra Vez

domingo, 10 de maio de 2009

A
mente
vencera
o coração,
e estou feliz
pois nada mais sinto.
.

Poliamor Amador

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Eu amo muito[s].
Em cada canto
Deixo meu canto
E meu encanto

Em cada lugar
Tenho [um] amado
Tenho
[me] gastado
Me aproveitado,
Acabado... Gozado!

Como é possível amar tanto?
Assim, sem razão...
Amar o amar
Só por amar


Amo o calor
O ardor, o suor
O sabor, o vigor
Amo a dor


A dor de quem ama?
Sou um amador!

Que[m] diz que muito ama
Mas nada sabe.

O Casório

domingo, 26 de abril de 2009







Num pequeno vilarejo do Maranhão
Moravam pessoas de bom coração
Vilarejo este onde todos de conheciam
E namorar à vontade nem todos podiam

Casamentos todos os dias aconteciam
Mas nem sempre os casais se mereciam
O padre Onório atormentado com tanto casório
Saiu da pequena cidade rumo ao sanatório

Com a ausência do padre, o povo se entristeceu
E com sua falta, casamento nenhum aconteceu
Para resolver o problema fizeram uma reunião
Com idéias reunidas encontraram uma solução

No vilarejo vizinho muitos padres haviam
Tão bom quanto Onório todos desconheciam
Agoniados e aflitos de tanto procurar
Deixaram e deixaram o tempo passar

De tanto esperar, os noivados estavam para acabar
As noivas desesperadas sem saber se iam casar
Mas como nenhum padre queriam
A solução se foi e casamentos não haviam

Mais um dia naquele vilarejo se passou
E o sorriso no rosto de todos brotou
O padre Onório reapareceu
E logo um casamento aconteceu

Com a volta do padre, uma festa aconteceu
Organizada pela igreja pois padre Onório mereceu
Os moradores muito alegres comemoravam
E no vilarejo todos agradecidos estavam

Casamentos era o que não faltavam mais
Mas Padre Onório não reclamava jamais
Todos estavam muito felizes e satisfeitos
E seus casamentos foram mais que perfeitos

Florentina moça bonita, namora com Chicão
E namoradinhos desde criança eles são
O casório dos dois era o mais esperado
E de tanto esperar já estavam agoniados

O noivo Chicão não sabia o que vestir
Então foi no alfaiate se decidir
Foi a mãe da noiva que o vestido fez
E bonito ficou pois ele era xadrez

Padre Onório feliz da vida ficou
Pois fará o casamento de sempre desejou
O tão esperado casório ia acontecer
As famílias faziam gosto de comparecer

Com tudo decidido e preparado
O casamento foi celebrado
E depois da celebração
Todos foram se divertir em um festão

Alguns meses então se passaram
E as festas por lá não acabaram
Pois era época de carnaval em fevereiro
E fizeram um baile para quem fosse solteiro

Todos do baile estavam mascarados
Pois casamentos poderiam ser acabados
O Chicão falou que iria viajar
E com saudades de Florentina iria ficar

Aproveitando a viagem do marido
Florentina no baile de mascaras teria ido
Conheceu um rapaz de quem muito gostou
E quase no fim da festa um beijo rolou

Para verem seus rostos às mascaras tiraram
E todos os dois surpresos ficaram
Florentina olhou para o seu marido Chicão
E os dois ficaram inconformados com a dupla traição.

27.02.2007 - em forma de cordel :)

Alucinações na Madruga

segunda-feira, 30 de março de 2009

Eu e duas pessoas fisicamente idênticas, andávamos em uma noite fria de sábado. Íamos em direção a escola, mas não íamos para a escola, o restaurante ficava na mesma direção. Andávamos apressadas, além de atrasadas, andar esquenta o corpo, e eu que havia escolhido um vestido para aquela ocasião, e morria de frio da cintura pra baixo. A ocasião era um jantar, feito para comemorar o décimo oitavo aniversário de uma garota da minha sala, simpática e pequenina, assim como a maioria, que aparenta ter menos idade do que realmente têm. Ao chegarmos na porta do restaurante, só uma pessoa, amiga das duas pessoas fisicamente idênticas, nos cumprimentados. Não demoraram muitos minutos até que a aniversariante chegou, de braços dados com um rapaz, que pra mim, era o seu namorado. Todos se cumprimentaram com os típicos dois beijinhos, ele como não me conhecia, ao me cumprimentar disse seu nome, em seguida, disse o meu.
- És portuguesa?
- Não, não. Brasileira.
Rimos. Esperamos um pouco do lado de fora, e eu continua a tremer de frio. Ao entrar no restaurante, uma mesa enorme pra 40 pessoas nos esperava. Sentamos um pouco ao meio. As duas pessoas idênticas fisicamente, sentaram ao meu lado direito, a aniversariante na frente delas, a minha frente uma desconhecida, ao lado dela, o tal rapaz que chegou de braços dados com a aniversariante. Com o decorrer do tempo, mais pessoas iam chegando, sentando-se e conversando. Ele, o rapaz, começou a puxar assunto comigo, perguntou de que parte do Brasil eu era.
- Do Nordeste.
- Não conheço. Mas sei um pouco sobre o Brasil, minha namo... ex-namorada era brasileira, então...
- Ah... Legal. – disse, sem saber muito que dizer.
- Faz tempo que tu estás aqui?
- Não... só dois meses.
- Eu também não sou daqui, sou colombiano, mas moro aqui faz tempo. – disse.
Enquanto isso, íamos conversando aos poucos, em cada brecha que aparecia ele me fazia uma pergunta, e eu, prontamente respondia, tímida, mas respondia. Todos conversavam, felizes. Foi aí que pediram vinho, vinho, mais vinho... As meninas começaram a ficar alegrinhas e falar alto. Alguém havia levado uma bebida, perguntei o nome, me disseram, mas não lembro, é um nome comum, mas estranho para bebida. Senti o cheiro.
- Parece tequila. Não é tequila?
- Não. – o tal rapaz disse. É uma bebida tipicamente portuguesa, prova.
- Não, não, obrigada. Não gosto.
- Prova, se tu gostares...
- Ta bem. – aceitei.
Peguei a taça, levando em direção a boca.
- Bebe tudo. – disse outro rapaz.
Virei a taça. Achei horrível, nada que eu não soubesse que iria achar.
- É horrível! Muito forte.
O tal rapaz começou a falar de bebidas, percebi que entendia do assunto. Cachaça é brasileira, tequila é mexicana... e por aí ele foi falando da origem de cada bebida, e perguntou se eu gostava. Disse que não, que quando bebia era vodka.
- Ahhh, a vodka é da Rússia... a minha bebida preferida, coincidentemente é vodka também.
- É a única que eu gosto. – disse.
A aniversariante, já alegre, começou a brindar e falar:
- Sou solteira e sou feliz!
Para o meu engano, ela e o tal rapaz, não eram namorados. Ao acabar o jantar. Eu e mais 39 pessoas fomos para a porta do restaurante. E o frio intenso do lado de fora. Todos estavam conversando, resolvendo se iríamos mesmo para uma boate. Os fumantes que tinham cigarro, fumavam, os que não tinham perguntavam pra todos que viam pela frente se tinham cigarro ou se tinham moedas pra dar para eles comprarem. Nisso, chegou um perguntando se eu tinha cigarro.
- Não, não tenho.
- Então me dá 20 cêntimos pra eu comprar?
- Não tenho trocado, só tenho moeda de um euro.
- És brasileira?
- Sou.
- Ô gatinha, me dá 20 cêntimos, vai.
- Eu não tenho. – procurei na carteira, e só achei 2 cêntimos.
- Toma, só tenho 2 cêntimos.
Sorriu e foi pedir mais moedas para outras pessoas. Provavelmente estava bêbado. Enquanto íamos pra boate, andando naquele frio que me fazia tremer, esse tal rapaz que queria cigarros, voltou e me pediu mais dinheiro, tornei a falar que não tinha. Ele começou a falar:
- Ah, me dá um cigarro...
- Eu não tenho, sério.
- Tu fumas crack?
- Não, fumo não. – Ri. Geralmente quem fuma crack é quem mora em favela. – disse.
- Favela? Eu vou pro Brasil contigo fumar crack.
- Você sabe o que é crack?
- Não, mas eu vou contigo fumar crack. Eu vou com a brasileira fumar crack!
O rapaz que eu havia conversado, perguntou se ele estava me incomodando.
- Não, não, deixa ele pra lá.
- Ô sai de perto da brasileira que ela é minha. – o bêbado do cigarro disse.
- Sou sua? Nossa...
Me irritei, e ele percebeu.
- Vem que eu te acompanho. – e estendeu o braço pra mim.
Andávamos como namorados, e conversávamos como estranhos, na madrugada fria. O cara chato ficou pra trás, assim como muitos. Estávamos em um grupo de 10 pessoas indo para a boate. Ele perguntou como era a escola no Brasil, expliquei:
- Ah, é bem diferente, lá nós temos 10 disciplinas, não pode sair na hora do intervalo, nem fumar na porta, nem namorar...
- Não pode namorar?
- Não... - Ri, ele também.
- A minha escola é diferente, segue o modelo britânico. Nós que escolhemos as disciplinas, tenho economia, matemática, e outras línguas estrangeiras.
- Quais línguas?
- Eu sei falar português, inglês, frânces e espanhol, perfeitamente.
- Perfeitamente? Nossa! - espantei-me, achei alguém que realmente estudava aqui, maioria não gosta de estudar.
- É... e sei um pouco de alemão também. - disse tímido.
Continuamos a conversar, até que chegamos na porta da boate fazendo barulho. Não nos deixaram entrar. Só entram quem eles querem, independente se você ser maior de idade, rico, entrar de casal, se eles não quiserem inventam uma desculpa pra não deixarem entrar.
- Que horas podemos entrar?
- A partir das duas horas, no mínimo. Agora só podem entrar casais e maiores de idade.
- Mas nós somos maiores de idade...
- Mas eu digo maiores que a idade de vocês.
A vontade de socar esse cara era enorme, mas fiquei calada. Resolvemos então entrar de casais, mas tinham mais meninas que meninos. O tal rapaz disse que podia entrar com a aniversariante e comigo. Uma por vez.
- Eu entro com contigo e com a...
Esqueceu o meu nome. É perdoável, afinal, meu nome pra eles é diferente. Nessa discussão de quem ia entrar com quem, aniversariante ligou pra alguém, assim ela resolveu que todos iam fazer hora no apartamento de alguém e depois ir pra boate. Mais uma discussão. A maioria não conhecia as pessoas que iam está nesse apartamento, nem quem era o dono, e nem o que eles estavam fazendo nesse apartamento. Houveram gritos no meio da rua, o clima ficou tenso com o stress e o frio, mas todos acabaram indo pro tal apartamento. Estavam lá várias pessoas que estavam no jantar. Muitas pessoas bêbadas e fumando, não conversavam, muitos eram apáticos, e as meninas bêbadas davam em cima do tal rapaz.
- Sabia que te acho muito giro? – fala a grandona bêbada insinuando-se e quase o beijando.
- Obrigado. – ele riu, sem graça.
Enquanto observava, resolvi ir embora e ligar pro rapaz mais velho. Estava entediada, e boate não me agradava, disseram-me que lá não precisa nem de gelo seco, a fumaça dos cigarros dá o mesmo efeito. Pedi as duas pessoas idênticas fisicamente que me explicassem onde era o endereço do apartamento pro rapaz mais velho vir me buscar de táxi. Não sabiam me explicar, perguntei a mais duas pessoas, também não sabiam. Perguntei ao tal rapaz.
- Já vais embora?
- Já...
- Hmm, ok. – fez uma cara de decepção e pensativo.
Ele tentou explicar mas o rapaz mais velho não entendeu. Pediu um ponto de referência pra mim, eu não sabia, perguntei ao rapaz, ele disse um supermercado. Se eu quisesse iria comigo até lá para o rapaz mais velho me buscar na porta do supermercado. Acho que não sabia que o tal supermercado ficava longe, só acho.
Resolvi procurar a aniversariante que havia sumido entre as muitas pessoas naquele apartamento pequenino. Encontrei-a e pedi que me dissesse um ponto de referência próximo. A clínica. Sabes onde é? Sim! O rapaz mais velho sabia. Ela disse que ia me deixar, o tal rapaz disse que ia conosco, ficou chateado com as meninas bêbadas que o xavecavam, na verdade, era mais que um xaveco. A aniversariante disse pra ele não ligar, afinal, elas estavam bêbadas. Ele não disse nada, pegamos o elevador e descemos. No caminho até a clínica, nós três conversávamos. A aniversariante uns passos à frente e ele ao meu lado.
- Me dá o teu telefone?
A aniversariante olhou com olhos maliciosos pra cima dele. Sorri.
- Hmmm
- Não me olhes assim, não posso ter amigos?
Dei o telefone, afinal, não posso ter amigos? Ri. Pensei um pouquinho e pedi o dele. Ele ia salvar no celular, mas...
- Esqueci o seu nome.
Repeti.
- Mas é com Y.
- E tu sabes o meu?
- Sei. – Ri.
- Mas é com G.
Engraçado, se fosse no Brasil diriam que foi erro de cartório. Salvei. Chegamos em frente à clínica, sentamos na escadaria e ficamos conversando, nós três. A aniversariante perguntou:
- Ô Amor, não acontece sempre isso quando saímos. Achas que vão deixar tu saíres de novo conosco?
- Vão sim, não se preocupa.
- Nem te divertistes, mas o jantar foi bom. – ela disse.
- Foi sim. – disse sorrindo.
O rapaz mais velho no táxi chegou, ao me despedir ele disse:
- Desculpa não ter tido uma noite mais fixe.
- É amor, da próxima vez vai ser melhor. Quando chegares em casa me manda uma mensagem dizendo que chegaste bem.
Falei que não tinha problema, e realmente não havia, o jantar fora bom. Agradeci, entrei no táxi, e segui.

Nada

quinta-feira, 19 de março de 2009

Toda adaptação é difícil
Pra pelo menos uma só pessoa
Mas é difícil.
Não reclamo
Mas não escondo minha tristeza
Tenho os olhos assustados
Sempre prestes a desabar
Minha voz é calada, trêmula
Preciso parar de prender o choro
Preciso desabafar
Preciso do teu abraço,
Encostar meu queixo no teu ombro
E não dizer nada...
Só ouvir o barulho da minha respiração
E me sentir protegida

Não ando só
Ando com a solidão, eu e ela
De mãos dadas
Passeando, perdidos...

Sei que vai passar
Mas nessas horas...
- Onde está seu otimismo?
Ele está ali, por último...
Como a esperança na caixa de Pandora.

Dois dias
Suficientes pra eu perder o brilho dos meus olhos
E andar, triste e só
Triste, enfim.

O Zé

quinta-feira, 5 de março de 2009

Zé Mané
Zé Pequeno
Zé Ninguém
Zé Qualquer

Tens má fama
Mas eu te [dif]amo.

Grande Salto

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Aquilo não fora uma briga, nem tiro, nem atropelamento. Mas aquele silêncio indicava que nem tudo estava bem. Cheguei perto do pequeno círculo de pessoas que se formara em torno do acontecimento. Era uma jovem caída no chão. - Foi suicídio. - murmuravam. Tão bela, tão jovem... Não tinham muitas pessoas ali, talvez acontecera a pouco. E cada vez mais, misteriosamente, surgiam curiosos, como formigas que surgem pra pegar um pedaço de doce caído no chão. Eu, um dos curiosos, cheguei mais perto, fitando-a. Algo me chamava atenção: não havia nenhum resquício de sangue, só ossos quebrados, talvez... - a perícia ainda não havia chegado. - Mas o que realmente me intrigou foi seu corpo, estava virado para cima. Ela, com um vestido branco e de braços abertos, estava de olhos fechados, com uma feição serena e com o rosto virado para o céu. Como um anjo sem asas que precisa fazer um pouso forçado, e sem resultados esperados, se entrega, fecha os olhos, mas mesmo assim continua visando o céu.

Já é Carnaval?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009




Não senti o Carnaval chegar
Mas sabia que ele estava chegando
Nas lojas: máscaras e fantasias
Confete e serpentina eram vendidos
Marchinhas estavam a tocar em alguns lugares
Na televisão, anunciavam um baile de máscaras!
Estava no calendário: feriado
Mas nada mudou
O trânsito fluía normalmente
Ouvia-se o barulho corriqueiro dos carros
E todos foram trabalhar
A cidade não parou
Eu parei
Foi a primeira vez que senti saudade do meu país
E não das pessoas.

Braga

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu tempo mudou.
Meu espaço também.
Ao tempo, lhe adicionei 3 horas.
Ao espaço, adicionei a distância.

Ah, Portugal...
Quero provar do teu sabor
Comer o teu melhor bacalhau
E encontrar em ti, um amor

Quero sentir a brisa gelada congelar o meu nariz
Alimentar as pombas da Praça das Laranjeiras
Dá um beijo em frente ao chafariz
E vagar nas noites frias, e acordar com olheiras

Quero olhar sempre riscos luminosos no céu
Observar a mudança das árvores em cada estação
Comer Pastéis de Belém na padaria do seu Manuel
E usar de teus encantos a minha inspiração

Quero caminhar pelo asfalto acinzentado feito de pedrinhas
Ouvir o barulho dos carros de polícia vindo da avenida
Comprar coisas antigas nas feirinhas
E ficar feliz, por ti, ter sido acolhida

Quero participar do balé dos guarda-chuvas ao chover
Enviar cartas na caixa de correio, que parecem irmão mais velho do hidrante
Que essas cartas mostrem o quão bela és, Portugal, a meu ver
Nesta cabeça que se diz inconstante

Quero carregar comigo toda tua bagagem
Passear pelo centro e conhecer tua história
Conhecer dos teus filhos, vossa linguagem
E guardar-te em minha memória.

Fórmula do Esquecimento

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.
Quero te esquecer. Vou te esquecer. Preciso te esquecer.


Já era, não dá mais, quando lembro de te esquecer é que não te esqueço jamais.

Parti

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Com a pressa de quem busca seu lugar ao Sol, parti
Se demorasse um pouco mais, eu talvez não conseguiria

Sem choro, nem vela, nem despedida, parti
Só abraços apertados, faces tristonhas, e o silêncio...

Com uma imensa dor no peito, e imensa serenidade, parti
No meu estado de plenitude, sem ainda cair em mim.

Sem trazer comigo uma saudade que dói e machuca, parti
Talvez a melhor saudade que alguém pode sentir

Com a alegria de quem anseia por novidade e reencontro, parti
Sem ter os braços fechados pro mundo...

parti.

Acabou

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Finalmente acabou! A mudança, a casa temporária, a doença possivelmente fatal, a recuperação, os amigos partindo da minha vida, a falta da internet, falta do carro, falta da minha figura masculina, regrar o dinheiro, a tarefa de ser mãe, adaptação as regras, luz fraca, mosquitos, ficar em casa, aprender a andar de ônibus, andar só de ônibus, compras não-fúteis, a saudade... Enfim, está tudo nos conformes como deveria ser, cheguei até pensar que esse dia nunca chegaria, passei por 4 meses que foram os mais tempestuosos da minha vida, como eu cresci, como eu amadureci... Como? e como... Agora me sinto em paz, de férias tempórarias, com a família reunida, com um lar pra chamar de meu, com pessoas novas pra conhecer, comidas diferentes pra provar, países pra conhecer... É, meu mundo novo só tá começando. :)

Ah... e o blog não está mais jogado as traças.