Confissões de um bêbado

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Eu bebo.

Aquele líquido que me vende sonhos em garrafas;
Que me deu alegrias, que me consolou em alguns momentos,

e que me deixou calmo e introspectivo quando era preciso.
Dizem que o álcool dificulta a cicatrização.

Deve ser por isso que ainda sinto as feridas abertas.

~

Despertador

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

despertador
desperta dias
desperta sonhos
desperta fantasias

despertador
desperta paisagens
desperta mundos
desperta linguagens

despertador
desperta conhecimento
desperta vontades
desperta sentimento

desperta incertezas
desperta amor
desperta ilusões
despertador.

Camisa de Vênus

terça-feira, 23 de outubro de 2007

O entardecer aquece o meu corpo e me protege das noites solitárias em que me encontro, com meus pensamentos vagando sem direção, sem uma certeza... O impossível está cada vez mais distante dos meus olhos e o palpável desvanece assim que acordo. Porque estou aqui? Esse não é o meu lugar. Preciso tomar aquilo que me alegra. Me sinto a cada dia mais mutilado por dentro, como se a areia da minha ampulheta já estivesse acabando, levando-me ao fim, ao meu fim... A ilusão tende a me atormentar cada vez mais, e os resquícios de minha felicidade vão sendo levadas pelo acaso, junto com as memórias que deixei por esquecer... Já nem lembro a última vez que vi seu sorriso, que me alegrava a cada manhã ensolarada, em que eu permaneci ao seu lado; Até chegar o dia em que eu amanheci em outra cama, sem ela... Até meus amigos me abandonaram, não sei se eram amigos, não sei se eram reais...

Seis horas. A enfermeira entra.

- Tá na hora do remedinho...
Remedinho? Porquê "remedinho"? Ela me trata como se eu fosse criança...
- Eu não quero esse, quero o que eu tomava!
- Esse você não pode...
- Porquê não? É a única coisa que tenho, que me alegra...
- Vamos, toma!

Tomo, relutante. Só assim descanso.

descanso...

Sinal Fechado

sábado, 13 de outubro de 2007

Ela parou ao meu lado, no seu carro vermelho. Abaixei o vidro e era ela, realmente. Puxa! Quanto tempo não a via, estava mudada, mas com o mesmo jeito sério de sempre. A chamei pelo velho apelido, ela virou subitamente, e deu um sorriso, levantando os óculos escuros. Perguntou como eu estava, disse que estava bem, ela o mesmo. Perguntei se ainda estava fazendo faculdade, ela disse que já havia terminado. Perguntou se casei, disse que sim, ela dizia que continuava solteira. Sorri. O sinal abriu, e cada uma seguiu seu caminho. Percebi como vida parece distanciar os melhores amigos, parece não, distancia de verdade, contrapondo decisivamente indivíduos na sociedade. Afarezes, compromissos, família, intercâmbio, trabalho, são vários os motivos que nos impedem de manter o mesmo contato com aqueles dos quais nós mais gostamos. E por pior que seja, isso é inevitável, não podemos ter todos por perto, sempre. E quanto tempo nos resta? O tempo de um farol de trânsito mudar de cor, do vermelho para o verde, da água para o vinho.

Soneto do ex-cafajeste

domingo, 7 de outubro de 2007

Da vida mundana quero esquecer
Consumia tudo o que podia e não devia
Entregue às tentações do vício e do prazer
Aceitando amores que o mundo me concebia

Lua se fez testemunha dos beijos que dei
Tantas juras de amor jogadas ao vento
Junto com as paixões que desperdiçei
Me levaram ao desalento

Tantas me carregavam em seu pensamento
Corações despedaçados e noites acordadas
Dando início ao meu julgamento

Já não era tão fugaz minha vida de delícias
O fim de minha insensatez começou
E destinos de perderam sem malícias